A freguesia de Carrazedo de Montenegro é historicamente uma das mais importantes do concelho. Foi concelho até ao séc. XIX, agregando grande parte das freguesias que hoje constituem Valpaços. Atualmente, continua a deter grande importância na economia e cultura do concelho.
A freguesia, que sobe quase oitocentos metros acima do nível do mar, encontra-se numa posição estratégica excelente, na medida em que se localiza equidistantemente de Valpaços, Murça, Chaves, Mirandela e Vila Pouca de Aguiar, usufruindo de uma situação privilegiada para o intercâmbio entre a terra fria e a terra quente. Esta circunstância aliada ao facto de ter sido cabeça de concelho e julgado medieval, possibilitou-lhe, ao longo dos anos, um desenvolvimento constante e continuado.
Para isso concorre também a fertilidade do seu solo, muito produtivo, devido às boas condições geomorfológicas existentes. Além do centeio, do trigo, do vinho, da batata, colhem-se ainda frutas variadas, com especial relevo para a castanha (que abunda). Castanha essa que representa, com efeito, um peso considerável na economia da região.
A mais antiga notícia sobre Carrazedo de Montenegro reporta ao ano 1155, mas é lícito supor que o povoamento desta freguesia seja remotíssimo. Tal infere não só da existência de um Castro, perto de Jou, que foi designado “Castelo de Montenegro”, mas também da rica toponímia local.
Carrazedo de Montenegro apresenta uma forma de povoamento bastante original, sendo que as casas se agrupam em nove bairros: Souto, Serra, Toural, Prado, Portela, Fundo de Vila, Corredoura, Igreja e Torre.
Efetivamente, parece ter sido o bairro da Torre o núcleo central que deu origem à Vila. De facto, este bairro apresenta fortes indícios, quer no que tange a aspeto, quer a feição, de maior longevidade.
É possível encontrar nesta freguesia habitações solarengas com largos pátios, amplos portões carrais rematados por florões e cruz de granito, entrevendo-se no frontão, em mísulas, os Santos da devoção dos velhos morgadios. Nalgumas dessas casas com fachada de fina cantaria, ressaltam pedras de armas, onde estão lavradas divisas ou insígnias heráldicas.
Todavia, o edifício mais notável é a sua majestosa Igreja Matriz, cujo orago é S. Nicolau bispo. Da antiguidade da Igreja é testemunho a antiguidade da fundação paroquial (séc. XIII). No séc. XIV, no “Catálogo de todas as Igrejas, Comendas e Mosteiros” (mandado fazer pelo Papa de Avinhão João XXII, por bula de 23 de Maio de 1320) que havia em Portugal, nos anos de 1320 – 1321, aparece já o aludido templo como um dos mais importantes do país.
Foi reitoria de apresentação da Mitra e comenda da Ordem de Cristo, de que era comendador o Marquês da Fronteira. O Padre Cardoso, no seu conhecido “Dicionário”, diz que o pároco era Reitor de apresentação dos Arcebispos de Braga, tendo um coadjutor da mesma apresentação; sendo pagos pela comenda.
Em 1757, a freguesia contava 226 fogos.
Pouco se sabe acerca da erecção de Carrazedo de Montenegro a concelho, não obstante ter tido foral por duas vezes.
A antiquíssima Terra de Montenegro foi a digna antecessora de Carrazedo. A actual freguesia recebeu foral de D. Dinis, em 1301, e ao longo dos séculos iria beneficiar largamente do seu estatuto de concelho.
Tem-se conhecimento, porém, que recebeu novo foral no séc. XVII, talvez em razão do senhorio e Casa de Bragança. Estava constituído por freguesias dos concelhos que, na atualidade, pertencem a Chaves, Valpaços e Murça e tinha uma razoável extensão territorial, até que foi definitivamente extinto, aquando de uma reorganização administrativa do País, em 1853. A freguesia de Carrazedo passaria, nessa altura, para o concelho de Valpaços.
A antiga freguesia de S. Miguel de Curros foi antigo curato anexo à reitoria de Carrazedo de Montenegro, no termo de Chaves, passando mais tarde a paróquia independente, com o título de vigairaria.
Pertenceu ao antigo concelho de Carrazedo de Montenegro, extinto pelo Decreto de 31 de Dezembro de 1853, passando então para o de Valpaços.
O pároco era vigário ad nutum da apresentação do Reitor de S. Nicolau de Carrazedo.
Curros localiza-se a sul do concelho, na margem de uma pequena ribeira que desce a serra e que, depois de passar esta povoação, conflui com o Rio Tinhela. Assenta, assim, no recanto de um pequeno vale muito fértil.
De referir ainda que, nos princípios do séc. XX e até 1912 (ano em que cessou a actividade), Vale de Campo esteve particularmente em foco, dado que uma empresa espanhola ali explorou minérios de prata.
Fonte:
- “Monografia de Valpaços”, A. Veloso Martins, 2ª edição, Dez. 1990, edição da Câmara Municipal de Valpaços
- Com a reorganização administrativa do território das freguesias, publicada no suplemento ao Diário da República, 1.ª série, n.º19, de 28 de janeiro de 2013, a freguesia de Curros foi anexada à freguesia de Carrazedo de Montenegro, formando a freguesia de Carrazedo de Montenegro e Curros.
Saiba mais em obras disponíveis na Biblioteca Municipal de Valpaços, nomeadamente:
- “Moinhos”, Vol. 2, “Fontes de Abastecimento de Água”, Vol. 1, “Geomonumentos”, “Relógios de Sol”, “Os Sumagreiros de Avarenta”, “Chaminés”, “Corpus dos Petróglifos do Concelho de Valpaços”, “Lagares Cavados na Rocha”, “Carta Arqueológica”, todos de Adérito Medeiros Freitas;
- “Valpaços Património Artístico”, de Roger Teixeira Lopes;
- “Valpaços-Lo-Velho”, de José Lourenço Montanha de Andrade;
- “Carrazedo de Montenegro (Memórias) ”, de P. Dr. António Barroso de Oliveira;
- “Valpaços – Rostos do Tempo”, de José António Soares da Silva;
- “Monografia de Valpaços”, de A. Veloso Martins;
- “As Freguesias do Distrito de Vila Real Nas Memórias Paroquiais de 1758”, de José Viriato Capela, Rogério Borralheiro e Henrique Matos;
